4ª Conferência Estadual Espírita (2000)
A cidade de Curitiba mais uma vez sediou um encontro de
grande utilidade, para a população, tanto espírita como não espírita, nos dias
18 a 20 de agosto de 2000, com a realização da Conferência Estadual Espírita,
em sua quarta versão, cujo tema central foi Brasil 500 anos.
A Federação Espírita do Paraná teve a honra de receber
pessoas das mais variadas regiões do Paraná e de Estados vizinhos que, em
vários momentos, lotaram o Ginásio do Círculo Militar do Paraná.
Os conferencistas Altivo Ferreira, Divaldo Franco e Raul
Teixeira foram tão felizes na abordagem dos temários propostos que, por mais de
uma vez, o numeroso público levantou-se para aplaudi-los.
A abertura contou com cerca de seis mil pessoas. Nas demais
conferências o número variou entre duas mil e quatro mil participantes.
Divaldo Pereira Franco abriu o evento, na sexta-feira,
abordando o tema: O Brasil e a questão moral.
No sábado, 19, o professor Altivo Ferreira fez a primeira
conferência do dia, na parte da tarde, abordando o tema: O Brasil e as questões
sociais.
Na tarde do mesmo dia Raul Teixeira falou sobre O Brasil e a
questão educacional.
Depois de fazer rápidas considerações sobre o grave problema
da falta de atenção por parte de pais, educadores e governantes para com a
questão educacional, o conferencista definiu o termo educação, sua etimologia,
seu real significado.
Disse o professor: “Educar é trabalhoso. Educar é um
trabalho demorado. Daí a grande tendência da Humanidade de buscar instruir,
antes de educar; para instruir não preciso sequer conhecer a criatura. Não
preciso!… Tanto que hoje se fala em cursos não presenciais, pela Internet, em
que a gente não sabe a quem está ensinando.
Instruir também vem do latim struere, que significa ajuntar,
amontoar. E se estivermos tratando de lâminas, empilhar.
Quando juntamos esse verbo struere ao provérbio in, dentro
de, o verbo struere, que deu instruir, passa a ser ajuntar dentro de, ou,
ajuntar em, amontoar em.
Quando passamos informações, estamos instruindo, não
obrigatoriamente educando. Quando estamos educando, obrigatoriamente estamos
instruindo.
Esses dois verbos, educar e instruir se propõem a coisas
diversas. Enquanto na educação nós sondamos o íntimo, para confirmá-lo ou
corrigi-lo, na instrução, ajuntamos dentro de, incutimos em alguém alguma
coisa.
Daí ser importantíssimo que verifiquemos o grande motivo da
falha educacional nas famílias, nas escolas, na sociedade. Aquilo que estamos
chamando de educação tem sido instrução. Quando acompanhamos as propagandas do
nosso Ministério da Educação, em torno de questões que deveriam ser
educacionais, nos deparamos com questões instrucionais, apenas. São
informações.”
Encerrando as atividades do sábado, Divaldo Franco voltou à
tribuna para falar sobre O Brasil e a questão religiosa.
Fez uma breve retrospectiva da evolução do sentimento de
religiosidade do ser humano, citando os vários degraus que o homem galgou na
busca de um estado de consciência mais consentâneo com a sua realidade divina.
Falando a respeito dos períodos que demarcaram a escala
evolutiva da Humanidade, assim se expressou o conferencista: “E é nesse período
racional, que nós chamaríamos das civilizações, que saem do norte da África, do
Egito, da Ásia, da Grécia, particularmente do Egeu, adentra-se em Roma para
preparar o Advento extraordinário dAquele que vem dar a noção mais perfeita de
Deus, o suave Messias Galileu.
A História conta que os mais cuidadosos observadores do
processo da evolução do Império Romano não conseguiram entender um
acontecimento histórico que teve lugar mais ou menos no período de Caio Júlio
César Otávio, quando esse notável cabo de guerra, que conseguiu sobreviver ao
triunvirato, estabelece em Roma, senhora do mundo conhecido, um período de paz.
Roma sempre esteve em guerra. O templo da deusa Vitória sempre esteve com as
suas portas cerradas, o que significa que Roma estava em guerra. Duas vezes,
apenas, as portas do Santuário da deusa Vitória estiveram abertas, havia paz no
grande Império, no qual o sol nunca se ocultava.
Exatamente antes de iniciar-se a Era de Jesus, Roma desfruta
de paz, porquanto Caio Júlio César Otávio, o Otaviano para outros, havia
conseguido, com mãos de ferro, dominar as bigas e quadrigas e as legiões que
distenderam o Império Romano por toda a Terra conhecida.
Era um homem de moral elevada. Os seus costumes estavam
exarados na lei do serviço no dever. Ele conseguira equilibrar a corte que
estava em decadência. O Patriciado e o Senado estavam vivendo dias de horror,
de indignidade e de suborno. Ele teve a coragem, por exemplo, de expulsar para
a ilha grega da Padatária a sua própria filha, porque a surpreendera em
licenças morais na intimidade da corte.
Sua mão de Imperador não tremeu quando a mandou para o
exílio e, mais tarde, repetiu o gesto audacioso, exilando a neta, porque se
aproveitava da posição da sua consanguinidade com o Imperador para entregar-se
ao desbordar das paixões que vicejavam em Roma. E em relação à esposa, que
experimentava veneno nos escravos, para poder libertar-se dos inimigos reais ou
imaginários, ele impôs-lhe uma grave punição, vivendo em Palácio, porém
separados no leito. E ele, se preservando o direito de manter a fidelidade conjugal.
Esse homem admirável teve a felicidade de reencarnarem no seu período, que foi
chamado O Século de Otávio, entidades que possivelmente vieram de outra
dimensão fora da Terra: Tito Lívio, Virgílio, Otávio, Mecenas, Salústio, como
os inspirados de Deus. (…)
Esse Imperador conseguira fazer com que a civilização
romana, durante o seu reinado, vivesse um dos períodos áureos da sua História e
muitos estudiosos do comportamento sociológico-histórico detêm-se em
interrogação: o que estava acontecendo?
É que naquele período, diz Humberto de Campos, Espírito,
‘tecia-se a túnica nupcial da divindade para o seu consórcio com a criatura na
Terra. É que logo mais nasceria Jesus para trazer a experiência de um Deus
amor, para substituir o atavismo do Deus temor. Para ensinar-nos a verdadeira
ética-moral e a melhor maneira de encontrar a felicidade.’ E Ele veio, veio com
um cortejo de Espíritos de escol, com raríssima exceção, que se vestiram na
indumentária humilde de pescadores, de Galileus, de Nazarenos. (…)
É nesse momento sim que a Religião do Amor Cósmico é declarada em uma montanha,
que poderia ter sido uma montanha qualquer. Amélia Rodrigues, Espírito, diz que
‘em determinado momento, narra um Apóstolo, Ele subiu a montanha e, parando,
abriu a Sua boca e cantou o maior hino que a Humanidade jamais escutou: As
Bem-Aventuranças.’ Mas outro diz: ‘…e descendo a montanha, Ele parou e, abrindo
a Sua boca…’ E Amélia Rodrigues, Espírito, considera ‘subindo ou descendo não é
importante’. Importante é que, em determinado lugar Ele parou e cantou o poema
glorioso das Bem-Aventuranças, mudando totalmente a estrutura da ética
estabelecida e preconizando a Era do amor integral, da abnegação, da doação
total. A era da renovação da Humanidade que jamais seria a mesma. (…)”
Abrindo as atividades do domingo ensolarado (condição rara
nessa época do ano em Curitiba), o conferencista Altivo Ferreira enfocou o
tema: O Brasil: o que queremos para o futuro?
Depois de um breve passeio pela trajetória histórica do povo
brasileiro, embalado pela cantoria das andorinhas ligeiras que se faziam notar
junto ao teto do Ginásio de Esportes do Círculo Militar do Paraná, Altivo
Ferreira referiu-se ao nosso abençoado País dizendo: “Faz apenas 111anos que a
Proclamação da República se realizou no Brasil.
Faz apenas 100 anos que nós, um povo, como Nação, assumimos
a responsabilidade dos nossos destinos.
Temos 500 anos de descobrimento, mas quase 400 de
colonização, de dependência. Primeiro, da metrópole e, depois, de dependência
política, ou melhor, econômica, em face da nosso condição de país modelo
primário exportador, ou seja, pela dependência das economias externas. Só agora
é que somos donos do nosso destino.
O Brasil, independente nesse sentido, que se independeu da
própria interferência direta da espiritualidade, dos seus destinos, embora
nunca o Cristo deixasse de nos dar toda a Sua cobertura. Este Brasil tem apenas
cento e poucos anos. Na escala da idade de um indivíduo, não teria nem 30 anos
de idade. O que mostra, portanto, que, quando vemos a imaturidade do povo
brasileiro, do nosso motorista, do nosso homem público, dos nossos indivíduos,
dos nossos jovens, ficamos preocupados como se não fôssemos ainda, de certa
forma, imaturos, precisando construir o nosso destino. (…)”
Encerrando as atividades do domingo e, por conseguinte, da
IV Conferência Estadual Espírita, Raul Teixeira abordou o tema: O Brasil e as
aristocracias.
Com exceção da conferência de abertura, nas demais os
participantes tiveram oportunidade de fazer perguntas e esclarecer as suas
dúvidas a respeito dos temas enfocados.
E, assim, a Federação Espírita do Paraná, comemorando seus
98 anos de trabalhos profícuos na difusão da Doutrina Espírita, realizou a
última Conferência Estadual Espírita do milênio, esperando que no milênio
seguinte muitas outras possam ser oferecidas ao público.
Em 25.4.2020.