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8ª Conferência Estadual Espírita (2006)

Nos dias 24, 25 e 26 de março, o evento de maior magnitude do Movimento Espírita paranaense ocorreu no Centro de Convenções do Parque Barigui, em Curitiba (PR), sob a coordenação de Divaldo Pereira Franco, Raul Teixeira e Cosme Massi.

A VIII Conferência Estadual Espírita atraiu a atenção da grande imprensa, como o Jornal O Estado do Paraná, a Rede de Televisão Educativa e a Rádio Banda B que noticiaram o evento, além de ter recebido o apoio do Instituto RPC, que promoveu divulgação televisiva e no jornal Gazeta do Povo. O grande interesse público pelo tema – a Lei da Reencarnação – trouxe aproximadamente oito mil pessoas à Conferência de abertura de Divaldo Pereira Franco, e manteve uma excelente média de participantes nos demais momentos.

Na Conferência de abertura, na sexta-feira à noite, Divaldo abordou a evolução da criatura humana, do ser primitivo à atualidade. Esse desenvolvimento foi analisado em comparação ao período da infância psicológica, de manifestações instintivas e automatistas, passando pelo período do pensamento mágico e egocêntrico até chegar gradualmente no pensamento racional, na adolescência, que finalmente poderá caminhar para o pensamento cósmico. Estas etapas muitas vezes coexistem no indivíduo, pela herança atávica.

Agora que nos encontramos no período do pensamento racional, procuremos liberar-nos da culpa através de análise psicológica profunda, através da terapêutica do Espiritismo, a mais eficaz, centrada no amor, na ação da caridade, e da proposta da iluminação interior… Nós iremos atingir oportunamente o pensamento cósmico, graças a esta lei sublime da reencarnação, este divino código da evolução que o Espiritismo resgata para colocá-lo ao nosso alcance; é a bênção do Consolador, para que bem entendamos a razão do nosso sofrimento…, concluiu.

Em seu Seminário sobre A lógica da reencarnação, no sábado à tarde, Cosme Massi analisou a lei da reencarnação em relação aos outros princípios da Doutrina Espírita, uma vez que não é possível estudar a reencarnação, do ponto de vista espírita, fora do contexto da própria Doutrina Espírita, dentro do qual ela foi formulada. Não é possível ter uma clareza de uma lei científica sem estudarmos a ciência na qual a lei foi formulada, explicou.

Assim, sua abordagem passou por questões sobre o conceito de alma, como ela vive no intervalo entre as existências, as suas atribuições, os mecanismos e justificativas da reencarnação, a ligação entre a alma e o corpo, entre outros. Cosme esclareceu também a importância da interdependência de causa e efeito entre os eventos naturais: Esta lei de causa e efeito, embora Kardec faça uso dela, não é uma lei criada pela Doutrina Espírita, pois está presente em todas as ciências.

O expositor desenvolveu ainda os argumentos enunciados por Kardec no capítulo V, da Segunda Parte de O Livro dos EspíritosConsiderações sobre a pluralidade das existências. Há no processo reencarnatório uma lógica que está relacionada a todas as demais leis reveladas pelo Espiritismo. É sob esta perspectiva que Cosme analisou o que causa as diferenças de aptidões nesta vida, sob o ponto de vista da existência da alma e da responsabilidade destas diferenças: Somos construtores de nós mesmos. A nossa vida de hoje é consequência das vidas anteriores – Lei de Justiça – e tem ainda uma finalidade – Lei do Progresso, afirmou.

A questão 132 de O Livro dos Espíritos foi foco de grande parte da sua análise: Qual o objetivo da encarnação dos Espíritos?
Deus lhes impõe a encarnação a fim de fazê-los chegar à perfeição. Para uns, é expiação; para outros, missão. Mas, para alcançarem essa perfeição, têm que sofrer todas as vicissitudes da existência corporal: nisso é que está a expiação. Visa ainda outro fim a encarnação: o de pôr o Espírito em condições de suportar a parte que lhe toca na obra da criação. Para executá-la é que, em cada mundo, toma o Espírito um instrumento, de harmonia com a matéria essencial desse mundo, a fim de aí cumprir, daquele ponto de vista, as ordens de Deus. É assim que, concorrendo para a obra geral, ele próprio se adianta.

Na resposta, Cosme identificou dois objetivos para a encarnação: fins que dizem respeito a si mesmo e os que dizem respeito ao indivíduo no mundo. Nós existimos para nos aperfeiçoarmos – chegar à perfeição – e também para executar tarefas no universo. Ao mesmo tempo em que me aperfeiçoo, eu me torno útil e desempenho um papel no universo onde me encontro. É realizando as tarefas que eu me aperfeiçoo. Ninguém é dispensável ou irrelevante no universo, assinalou.

Em seguida, foi a vez de Divaldo retornar à tribuna para o Seminário sobre A reencarnação através dos tempos. Destacou a história de Siddhartha, o Buda, que descobriu que o caminho da felicidade é o caminho do meio – nem o extremo do abandono e da revolta, nem o dos gozos e das licenças morais. Buda passou a pregar que existiam quatro nobres verdades que mereciam ser respeitadas por aqueles que pretendessem entender a vida: a Verdade do Sofrimento, a Verdade da Causa do Sofrimento, a Verdade da Extinção do Sofrimento e a Verdade do Caminho para a Extinção do Sofrimento.

O orador baiano lembrou do momento em que a reencarnação deixou de ser dogma no Cristianismo, através do Concílio de Constantinopla, por incentivo do Imperador Justiniano, tornando-se dali em diante uma doutrina herética. Apesar desse esforço, Divaldo destacou que não existem teologias contrárias à reencarnação, à exceção desta decisão do Concílio. Por fim, ressaltou o advento do Espiritismo, que trouxe o conceito de reencarnação de forma clara e lógica, em sua construção racional.

À noite, Raul Teixeira iniciou sua participação no evento realizando Conferência, onde apresentou uma linda metáfora sobre o autoconhecimento: Um homem comprou uma casa centenária e se enamorou tanto da casa recém-comprada que queria pintá-la. Contratou um profissional para ir raspando as camadas das paredes. Depois de raspar as camadas de tintas, o profissional chegou à camada de pinho, amarelo, brilhante, com listras marrons. Conseguiu desnudar a parede. Ninguém imaginaria que, por baixo daquelas camadas de tintas, houvesse aquela madeira tão valiosa. Agora sim, ele iria preparar a parede com seu próprio gosto, para ser feliz em sua casa centenária. Nós somos exatamente assim. Ao longo de uma encarnação, recebemos tantos vernizes, apliques e massas, que na idade adulta nos tornamos pessoas cheias de conflitos. E, precisamos de um profissional para fazer esta raspagem, esta desconstrução. Muitas vezes encontramos a criatura perturbada por não saber exatamente quem é, elucidou.

Este trabalho de desconstrução do ser social passa pela necessidade de ser verdadeiro consigo mesmo, explicou Raul. O orador fluminense aprofundou-se nas palavras de Santo Agostinho, em resposta à questão 919 de O Livro dos Espíritos, sobre o autoconhecimento, ressaltando a importância de se realizar a viagem de volta para dentro de si mesmo, sem autoenganos e vernizes sociais.

Em seu Seminário na manhã de domingo, Raul Teixeira abordou o tema A justiça da reencarnação. Com o Espiritismo, avalia-se a reencarnação do ponto de vista de que Deus é a Inteligência Suprema do Universo e, portanto, Sua criação é permeada pela Sua Justiça, ainda que não a entendamos no presente. Adiante, Raul resgatou a questão 132 de O Livro dos Espíritos, tal como Cosme o havia feito, para ponderar que não seria possível atingir a orientação de Jesus (Sede perfeitos, como perfeito é o vosso Pai Celestial) se não houvesse a reencarnação.

Ao final do evento, os três conferencistas expuseram suas últimas considerações, envoltos em muita emoção, pelas vibrações de gratidão e carinho dirigidas a eles e pela excelente realização da Conferência. Divaldo recebeu, através da mediunidade de psicofonia, a mensagem Desafios da jornada, do Espírito Bezerra de Menezes.

A intensa mobilização das equipes de funcionários e trabalhadores voluntários da Federação Espírita do Paraná igualmente contribuiu para o êxito do evento. Foram mais de cem voluntários mobilizados entre as tarefas de recepção, segurança, infraestrutura, livraria, jornalismo e atendimento aos conferencistas.

Ao lado do estande da Livraria Mundo Espírita, que ofereceu ao público as obras de Allan Kardec e os produtos da Federação Espírita do Paraná, outros dois estandes disponibilizavam à venda a produção de Divaldo Franco e Raul Teixeira. Estavam sob a responsabilidade de companheiros que trabalham ao lado dos dois oradores em suas atividades doutrinárias nos Estados do Sul do Brasil, de forma voluntária, organizando a venda dos seus livros, CDs e DVDs, cujos recursos são diretamente destinados às obras de assistência educacional de Divaldo – a Mansão do Caminho, em Salvador (BA) – e de Raul – o Remanso Fraterno, em Niterói (RJ).

Ao se despedirem, muita comoção na troca de abraços e desejos de muita paz e perseverança nos trabalhos doutrinários. Abraçavam-se as caravanas de espíritas vindos das mais distantes regiões do Estado do Paraná e também de Estados vizinhos, que prestigiaram o evento com a sua participação, e puderam retornar aos seus lares com as fibras da alma tocadas de grandes reflexões e motivação.